Terça-feira, 8 de Abril de 2008

AVC após o parto

Boa tarde Luísa,
Chamo-me Ermelinda G. e quero partilhar consigo o que me aconteceu em Maio de 2001. Depois do meu terceiro parto (tenho 3 filhas lindas) tive um AVC   isquémico com 33 anos que me deixou várias sequelas físicas. Ainda hoje não há explicação clínica para o que me aconteceu. Sei que estive 19 dias em coma profundo. Quando acordei do coma tive que reaprender tudo ,comer, andar,  falar, etc. .A única coisa que sei é que a vida nunca foi o que era, nem nunca mais voltará a sê-lo.Como sei que já passou pelo mesmo e gostaria de partilhar ideias e experiências consigo
 
Muito obrigada e até sempre.
Ermelinda,
Muito obrigada pelo seu depoimento.
Isto porque a maior parte das pessoas continua sem saber que o AVC é a primeira causa de morte em Portugal e que acontece em todas as idades.
E já agora vamos explicar que um AVC esquémico é diferente do hemorrágico que como o nome indica faz uma hemorragia no cérebro .
Mas voltemos a si Ermelinda. Não posso nem por sombras comparar o que me aconteceu a mim com o seu quadro clínico .
Mas percebo muito bem o que quer dizer. Nada volta a ser o mesmo.
Também a mim, só dois anos depois encontraram aquilo que os médicos consideram ser a primeira causa do AVC .
Tenho e sempre tive tensão baixa, não sei se o mesmo se passa consigo. Portanto, pensarmos que estamos imunes, mas não é verdade.
As minhas consequências físicas não foram de forma alguma do tamanho das suas, mas também as tive.
Deixei de conseguir ler ou escrever. Deixei de ter orientação do espaço não conseguindo dentro da minha própria casa saber onde era o quarto ou a casa de banho.
Mas, 4 anos passados, as sequelas com que fiquei foram reduzidas. Não falo disso por não querer fazer noticia, como compreenderá, quando há tanta gente muito pior.
Mas o que mais me aflige, é o facto de os médicos, porque estão preocupados com as consequências físicas , nunca avisarem o doente e a família das consequências a nível de personalidade .
Só mais tarde percebi que era natural o que me acontecera, isto é, ter mudado radicalmente a forma de ser estar na vida.
Gostararia muito de dizer que tal se deveu à aprendizagem da vida ou ao facto de valorizar esta segunda chance que me foi dada a mim e a si de vermos os nossos filhos crescer.
Mas não. Simplesmente no pós AVC eu era outra pessoa e para sempre fiquei assim.
A minha família tem a perfeita noção disso. Perante os outros eu tento manter um resquício da forma de ser que tinha dantes.
Falo-lhe da minha experiência porque sei o quanto é importante encontrarmos alguém que tenha passado pelo mesmo que nós, nem que seja em pequena parte.
Eu gostava sinceramente que me escreve-se e contasse mais sobre a sua experiência.
Como foi a sua recuperação, quanto tempo levou, como reagiu quando saiu do coma, como se sentiu quando voltou a ver as suas meninas e quanto tempo tinha o seu bebé.
Enfim tenho imensas perguntas. Por favor volte a este espaço para conversarmos.
Para terminar, e com a modéstia que o meu caso obriga, posso dizer-lhe que embora não tenha voltado a ser a mesma, houve coisas novas que descobri.
Agradeço a Deus, como já disse, esta segunda hipótese para acompanhar os meus filhos e neta, a minha razão de ser.
Ficarei a aguardar por si aqui neste cantinho.
Um grande  abraço de admiração,
Luísa
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publicado por Luísa Castel-Branco às 16:16
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